Há certos momentos em que sentimos na pele a ausência plena do amor. Desacreditados na sua aparição, saímos apostando em tudo o que vemos pela frente, naquela falsa esperança de que uma hora iremos senti-lo. Falsa esperança. Falso desejo. No fundo, o que queremos de fato é uma aventura rápida, sem muitas complicações. Precisamos, urgentemente, esquecer um pouco da dor que estamos sentindo e para fazê-lo, nos sujeitamos a tudo sem perceber.
Curioso é que só somos de fato surpreendidos quando não esperamos por surpresa alguma. Parece meio óbvio a princípio, mas, na verdade, estamos sempre esperançosos por algo a mais, algo que supere as nossas expectativas em todos os sentidos possíveis, daí a dificuldade de sermos realmente surpreendidos por alguém que conhecemos. E em meio a tantas desilusões, há um momento em que simplesmente deixamos de esperar por algo. Aí, então, somos surpreendidos.
Na surpresa da aparição repentina de um sentimento tão desejado e, igualmente, pouco sentido, o primeiro estágio do amor ao qual passamos é a paixão. Intensa que só ela, deixamo-nos levar pelo seu poder de persuasão, entregamo-nos aos seus desejos e nos jogamos aos seus delírios. Os momentos mais intensos de uma relação são vividos nesse estágio, pois é nele que as descobertas feitas a respeito do outro mostram-se como excitação, despertando curiosidade e interesse mutuo.
A falta de experiência com tal sentimento faz com que cometamos erros irreparáveis a seu respeito sem que cheguemos a perceber sequer tal erro. Desacreditados, mas esperançosos, na sua existência, às vezes amamos demais a quem deveríamos amar de menos. A consequência de erros dessa natureza é o esquecimento de nós mesmos. Ficamos completamente desorientados. Qualquer plano de vida que tenha sido feito antes disso simplesmente morreu.
Para entendermos de fato o amor é necessário que aprendamos primeiro o significado do amor próprio. Leva tempo. Leva vida. E como leva. Todavia, se não aprendemos a nos amar primeiro qualquer coisa que venha depois disso é uma mera imitação do amor. O tempo se oferece como professor voluntário àqueles que demoram muito a entender isto. Só que vale a pena frisar: quanto mais tempo se leva para aprender o verdadeiro sentido do amor, menos tempo se tem para vivê-lo.
Bruno Miranda
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